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Nadelson Costa Nogueira Júnior

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Durante dias, semanas…
Fiquei aguardando teu telefonema,
Como o pescador da madrugada
Que depende do farol
Para retornar são e salvo em casa.

Contei as estrelas e os carneiros
Antes de adormecer…
Cultivei o mais alto grau de paciência
No âmago da impaciência.

Fui infantil desde o início…
Pois só uma criança se atreve…
A viver em devaneio o desconhecido.

Desejei-te,
Não somente em sonho,
Mas também na mente.

Para o poeta de ofício,
Só basta um acidente
Ou um mero acaso,
Para se apaixonar…

Mas paixão acidental não tem cura;
Além da conformidade
Ou da própria morte…
Pois assim a vida não teria a menor graça.

A surpresa maior se faz,
Quando me pego escrevendo
Seu nome na toalha de papel.

Escrevo-te, te aguardo…
Na esperança de receber…
O tão esperado telefonema.

Minha timidez é meu medo.
Meu medo justifica minha timidez.
Não é uma questão de ir ou vir,
De certo ou errado…

As coisas acontecem do nada.
Só basta aparecer algo diferente,
Que ela se alastra…
Como o freio da alma e da mente.

Será o medo do desconhecido?
Ou será o medo do medo?
Talvez seja só um detalhe.

Em alguns casos,
O coração dispara e o corpo fica dormente.
Parece que o chão vai se abrir.

O rosto fica todo avermelhado.
As pálpebras se abrem e fecham…
Repentinamente, dá vontade…
De ver tudo sumir ou a si mesmo.

Até acontecer o primeiro toque
Ou, simplesmente, o impulso…
De levar à realização do primeiro beijo.
Tudo parece não ter conserto.

Assim é a dialética do tímido:
Ver o mundo difícil desde o início…
Desconfiar de todos até que não haja mais confiança.

Conviver com a esperança
De não ser o primeiro a falar
Ou a Ter que puxar a conversa.

Por deus!
Não vejo motivo para tanto espanto;
Pois cai da lua…
Tropecei numa de suas crateras,
E lançado… Fui… dejeto ao espaço.

Bailei com as estrelas
Na inércia de minha trajetória.
Segurei as mãos dos anjos…
E fui vagando como moribundo
Pelo insensato infinito.

Meu espírito estava livre…
A ausência de gravidade me inspirava.
E, durante a quebra das leis físicas,
Aprendi o banjo tocar,
Encoberto pela seda das fadas.

Sem dúvida,
Muitos enamorados apontaram para mim
E exaltavam em alegria:
– É um cometa…. Uma estrela cadente!!!
Todavia, estavam todos enganados;
Afinal, era somente um pirilampo…
Cantando e enfeitando o espaço.

A cidadela se encontrava sitiada
Pelos bárbaros pagãos…
A multidão, desesperada,
Batia à porta da prefeitura…
Não pelo medo da fome ou da morte,
Mas pela possibilidade…
Do mundo deixar de ser cristão.

Os mecenas compravam os soldados
Para protegerem, não suas vidas,
Mas a arte explorada de seus artistas…
Estes, por findo, se abraçavam aos quadros
E às esculturas femininas sem cabeça.
A idolatria tomava todo o reino,
Enquanto que todos aclamavam o milagre em desejo.

De vento em pompa,
Veio voando da abóbada do teatro
O vislumbre de Vênus com suas vestes azuis.
Seu corpo encouraçado de brilho e beleza,
Encontrava-se elevado sobre o útero dos fracos,
A ostra, que, no interior, trazia consigo a pérola negra,
Que atraí a ganância dos homens,
Mas não reflete sensibilidade da luz.

Então a deusa passou pela multidão
E parou exatamente no centro do bulevar.
Num único gesto, ela estendeu a pérola, dizendo:
– Aquele que tiver a coragem de Perseu,
Que pegue sua espada e lute;
Pois o prêmio será o calor eterno da paixão;
Podendo o mesmo escolher qualquer mulher como esposa.

Viam-se os homens de olhos radiantes,
Hipnotizados pela beleza do amor personificado;
Mas essa não era uma época áurea de guerreiros valorosos
Ou de homens que falassem com deuses.
A luta já era praticada pelo medo e pela desesperança.
Assim poderia haver, sequer, um homem com alma de diamante?
– Perguntava-se a deusa já quase que decepcionada.

O vento suave rompeu a praça,
Enquanto que a deusa se virava,
Movimentando, quase que numa sinfonia,
Seus cachos dourados, que brilhavam como o sol.
Ela abaixava o braço, se preparando para partir,
Quando, do nada, lhe surgem o encanto e a ironia:
– Um fidalgo idoso e decadente; pois…
Suas vestes estavam em farrapos e encardidas.

– Perdoe-me o atraso, Mademoiselle…
Todavia, o corpo não acompanha mais
A virtude do espírito, como muito menos,
O calor alvoroçado de meu coração.
Outrossim, vo-la peço desculpas pelos trajes…
Como também pelo linguajar indigno…
Jaz mui tempo que não falo com os deuses.
– Dizia o fidalgo com o sorriso de criança.

– Que ironia de Zeus!!!
Venho até aqui para conseguir um herói,
Mas, pelo que vejo, só me enviaram um poeta.
De loucos o mundo está cheio,
Mas nem os loucos de hoje são…
Tão lunáticos como de outrora.
Por tal motivo, o esquecimento é certo para mim
E para os demais deuses do Olímpio.
– Afirmou Vênus em voz alta perante o povo.

No mesmo instante lhe retrucou o fidalgo:
– Vênus, deusa do amor, da beleza e da fertilidade…
Não chores pelo inevitável, mas mantenhas viva sua chama.
Lutarei contra os árabes e os pagãos e abro mão
Da pérola e da esposa resguardada…
Só lhe apresento um desejo:
-Quero-te um único doce beijo e depois partirei.

– Soldados abram os portões da cidade!
– Ordenou o fidalgo sem mesmices.
Quando os portões foram abertos,
Só se escutava o barulho comum da natureza;
Pois no âmago da burrice,
Não havia inimigo para lutar…
Até mesmo para a deusa,
As coisas se apresentavam sem clareza.

– Quem és tu, fidalgo?
– Perguntou a deusa desconfiada;
Pois somente um deus teria tamanho poder
De fazer aparecer e sumir uma legião inteira
Num piscar de olhos.

– Sou um dos filhos fugitivos de Cronos.
Fui amparado em segredo por Gaia.
Ando pelos reinos de Hades, do ar, da água e da terra.
Meu domínio está sobre todos, deuses e humanos.
Apareço na alegria e na tristeza,
Na saúde e na guerra.
De certa forma, Afrodite,
Sou seu amante anônimo e quase seu irmão.
Tudo que faço só tem sentido contigo,
Como o mesmo contigo em relação a mim.

– Todos os deuses cairão, como os Titãs.
Todo o Olímpio terá seu fim…
Sua conotação será um mero registro da história humana.
No futuro, os diamantes acabarão…
Assim, como a beleza, a juventude e a vida…
Nós seremos os únicos sobreviventes dessa alegoria;
Pois a humanidade começa e termina sob o afago de nossos dedos.

– Tu és a lua, eu sou o sol.
Tu és o céu, eu sou as estrelas.
Tu és o beijo, eu sou o medo.
Tu és o sonho, eu sou a fantasia.
Tu és o pó, eu sou a pedra.
Tu és o tudo, eu sou o vazio.
Tu és o sim, eu sou o não.
Tu és o sono, eu sou a espera.
Tu és o começo, eu sou o fim.
Tu és o Amor, enquanto que me chamo Solidão.

– Não fales minha querida…
Não sejas imprudente como a paixão carnal.
A humanidade precisa de ti para viver,
Enquanto que necessito somente…
De seu doce beijo para fantasiar…
E preparar os solitários para te receberem
Na plenitude do espírito;
Pois só valorizam o amor,
Aqueles que o conheceram tampouco.
– Disse o deus idoso à soberana Afrodite.
A deusa ficou parada,
Olhando para a Solidão,
Que segurou sua mão e lhe deu…
Um leve beijo nos lábios.
Logo após, o deus simplesmente…
A cortejou; dando-lhe um botão de rosa,
e montou no seu bucéfalo;
Seguindo para fora da cidade.
A deusa, simplesmente, desapareceu chorando;
Abandonando a pérola por entre a multidão;
Levando, no lugar, a flor.

* * *
Foi assim que nasceu a arte do cortejo
Através do buquê de flores…
Pelo menos, na minha humilde concepção.

Todavia, aqui estão escritas palavras…
Que não passarão de meras palavras…
Chaves falhas das relações cotidianas,
Que nos envolvemos durante todos os instantes.

Ora vem o mar, Ora vem ar,
Ora vem a terra; mas nunca vem o amar.
E nos atrevemos quase sempre a dizer…
Aquelas coisas que nunca deveriam ser ditas…
Aquelas palavras que certamente alguém as usará contra a nós mesmos
No momento de total desespero.

Chamaria esse sentimento de amor?
Chamaria meus objetivos de Utopia?
Diria que o meu trabalho é minha vida?
Não; pois aqui eu renego a tudo.
Desqualifico minha classe e minha categoria.
Abdico os totens racionais dos empíricos.
Renego qualquer tipo de lei que me limite como indivíduo.

E, no âmbito do afeto, abraço todos os presentes;
Dando-lhes beijos e sorrisos…
Dito-lhes minhas propostas:
– Vamos fazer nada… Nada daquilo que nos impeça de sonhar.
– Vamos construir novas estruturas, novos caminhos.

Mas quando vos digo novos caminhos,
Não penso em continuar o caminho de nossos pais…
Penso na realização de um caminho abstrato racional
Que se deixe interpretar por qualquer indivíduo,
Por qualquer cidadão ou ocasião.

Quando eu penso em novas estruturas,
Imagino, não a continuação da nossa história farda;
Mas na iniciação nula de um estilo de época avançado
Sem drama ou melodia determinada…
Afinal, as coisas acontecem como uma mera manifestação do acaso.

Abro mão de minha cidadania,
Dos meus ideais de decência…
E da minha apólice de seguros pessoais,
Se a partir deste instante,
Eu não poder olhar para o céu e dizer:
– Sou um Artista.

Mas isso é pouco para uma figura catalisadora de idéias.
Ser é condição de Manifestação,
E Manifestações vão, Manifestações são esquecidas…
Manifestações morrem.

Sou muito mais que uma manifestação;
Pois eu sou parte do vento e da chuva.
Sou a continuação daquilo que ainda não veio.
Afinal, como a humanidade,
Eu estou com as trevas e abaixo de Deus.

Como os artistas presentes,
Eu afirmo que não sou uma manifestação.
Pois estamos acima das normas e dos valores…
Somos nós que iniciamos as grandes revoltas, as ditas Revoluções.

Aqui eu ratifico:
– O mundo não é nada sem a nossa inspiração.
– O Homem não é nada sem o ar de nossa graça.

Não somos uma mera manifestação do acaso.
Não somos amigos do belo.
Não somos o caminho da perfeição…
Somos meramente o inconsciente das sociedades…
Somos poetas, pintores, músicos, teatrólogos…
Somos a exuberância da expressão humana.

Por Favor, criaturas do futuro,
Não nos confundam com os intelectuais,
Muito menos com as crianças,
Por que nós somos a Arte por si mesma.

Existem momentos em que a alma se encontra tão distante e tão solitária, que qualquer ruído pode significar um instante de esperança ou de medo da incerteza…  É a partir de tais sentimentos que os objetos passam a ter vida, memória e necessidades…  É a partir do equilíbrio moral entre sentimentos tão antagônicos, que nasce a simbologia, onde alguns objetos passam a ter muito mais que meros significados, mas virtudes.

Existem dois pares de luvas brancas os quais significam a pureza, o compromisso com Deus, com a Pátria e com a Família…  Muito mais do que isso, os Pares me chamam a atenção aos deveres e responsabilidades para com a Sociedade…  Eles representam a luz e a virtude que devem emanar do fundo da alma humana a qual tem o compromisso divino de  cuidar carinhosamente da criação.   E assim, os irmãos cuidam de seus irmãos, simplesmente, porque, na verdade, só podem existir a comunhão e o amor.

Um dos pares de luvas eu carrego comigo no intuito de manter vivo o sentimento e a responsabilidade que me cabe como cidadão e como Irmão…  E que o meu par nunca se suje;  pois ele é a simbologia de minha virtude e de minha alma…  Que o meu par nunca se perca em juízo e que passe de pai para filho, de geração a geração.

O segundo par tem o mesmo sentido e objetivo do primeiro, mas ele não me pertence;  embora  o carregue comigo intensamente.  O segundo par de luvas pertence a alguém que pode estar em Jerusalém, Tóquio, Londres, Bagdá ou até mesmo em Rio Bonito… A dona dele pode morar em alguma dessas cidades do mundo…  Ela pode até ser minha vizinha ou ter estudado comigo o colegial inteiro…  Na verdade, eu não a conheço, embora a mesma se faça presente em meus sonhos todos os dias…  O segundo par de luvas pertence àquela que será a mãe e responsável tanto por mim quanto por meus descendentes…

Sou um solteiro que sonha em ser pai…  Sou um pai que sonha com muitos filhos…  Sou um sonhador que tem a loucura de ter uma Família…  Sou uma alma carente de amor.

Por isso eu afirmo que o primeiro par de luvas é o DEVER, enquanto que o segundo é a ESPERANÇA

Sinto saudades das flores,
Dos cortejos e da valsa.

Sinto saudades dos presentes,
Das caixas surpresas recheadas de chocolate.

Sinto saudades da etiqueta…
E daquele lindo vestido longo que contornava o corpo feminino.

Choro só de pensar na meia taça…
E na sensualidade do lingerie.

Sonho com passeios a cavalo…
E longas caçadas no bosque.

Desejo qualquer dia desses…
Viver tudo isso com alguém.
Todavia, as mulheres desse século…
Não são românticas ou criativas.

Gostaria de beber um bom vinho,
Acompanhado duma carne saudável.

De preferência, colocaria um par de velas acesas…
Sobre o altar da refeição carnal.

Preencheria o vazio do quarto com o incenso…
E o aroma das pétalas de rosas.

Leria um clássico literário,
Enquanto deleitava-me sob o afago de seus dedos.

Velaria seu sono para guarda-la em segredo.
Beijaria seus lábios como se fosse a primeira e a última vez.

Faria qualquer coisa para viver tudo isso…
Só não abriria mão de minha criatividade;
Pois, sem ela, minha existência não teria significado…
Eu seria mais um figurante na novela da vida.

Minha doce marquesa,
Diga-me, por vontade,
Quais são vossas propriedades…
Ou quais são vossas grandezas.

Não… Não me digas nada;
Pois descobrirei teus segredos, sozinho.
Andarei pelo território misterioso de sua alma…
Percorrerei cada centímetro de teu corpo.
Mas, não limitarei vossas propriedades ao físico;
Embora deseje intensamente dedilhar vossa geografia…
Conhecer-te passo a passo, vosso relevo.
Desbravar, em aventuras, vossa mata virgem…
Mapear, por inteiro, vossa cartografia…
Até onde nenhum explorador obteve o êxito em chegar.

Sem dúvida alguma,
Encontrar-me-ei com antropófagos,
Seres que comem a carne de seu semelhante
No intuito de possuir a alma da vítima.
E não estaria o mundo inspirado
Em figuras cruas e bizarras da antiguidade?

Como faço com mundo real,
Sentar-me-ei à roda dos seus aborígines
Contarei fábulas e inspirarei seus espíritos…
Não satisfeito, ainda, (…) comerei parte da refeição,
Na forma determinada pela etiqueta europeia
Antes de partir, brindarei a Vossa Majestade.

Fazer-me-ei uma expedição às profundezas de vosso inconsciente.
Levarei os antropófagos comigo…
E lhes pagarei com a carne de meus inimigos.

Passar-me-ei por guerras civis.
Levarei a liberdade e a justiça aos justos e necessitados.
Colocarei tribos contra tribos.
Perderei amigos e ganharei máculas eternas.
Terei um colar com dentes de tigre.
Meu nome será lembrado como uma lenda
Que nunca morre.

No final de minha jornada,
Sentarei no pico culminante de Vosso mundo,
Arrancarei meus dedos congelados dos pés;
Olharei perifericamente tudo.
Todos dirão que consegui…. Que conquistei tudo!!!
Sem dúvida alguma,
Eu darei aquele sorriso irônico peculiar, questionando:
– Conquistei ou fui conquistado?

Estarei velho e fraco.
Não terei potencial físico para voltar.
A inconsequência, musa e filha dos exploradores,
Aparecerá diante dos olhos e me carregará no colo…
Até o túmulo do esquecimento…

Então, pensarei comigo:
Não… Não me venhas brava,
Com o semblante de um vulcão…
Não me dês avisos de perigo;
Porque não os ouvirei;
Pois sou inconsequente!!!

Diga-me somente aquilo que esperas da vida…
Conte-me teus sonhos, suas fantasias…
Na dúvida ou no silêncio,
Disserte o amor em todos os sentidos…
O que esperas dele e do amante?
O vulto do impossível ou um sorriso incandescente?
Não importas, pois é vossa vontade que…
Determina aquilo que é real ou imaginário…
Aquilo que é detestável e integrante.

Filos… Amor de amizade…
Sentimento mor de afeto ou de amigo.
O amor manifestado na forma mais inocente…
É nele que os relacionamentos têm início,
E é pela ausência dele que eles acabam!

Eros… Amor de amante…
Manifesta-se pela explosão da carne
E o total descontrole do espírito…
É por causa dele que os corpos se abraçam
E se entrelaçam entre os fluídos e os gemidos.
É dele que nascem os irresponsáveis!!!

Ágape… Amor de Sacrifício…
Esse é o pai dos heróis e dos profetas…
Pois tal é o amor que nos pede tudo,
E que não nos dá nada de retorno;
Mas o retorno é desnecessário;
Pois nele se morre por amor
Sem querer qualquer coisa em troca.

Platônico… É o amor ágape puro…
Sem qualquer consciência de sacrifico.
A única diferença é que, neste,
O amante se encontra muito vivo…
Outrossim, distante em seus sentimentos.

São tantas as formas de amar,
Que já perdi a conta e distinção das mesmas.
Pois somente aquele que ama, sabe discernir…
A complexidade emotiva de tais formas ineptas.
Além do mais, só se pode ter certeza do amor,
Quando se ama de todas as formas ao mesmo tempo,
Se tais sentimentos se apropriam de uma única…
Ou de várias pessoas… Não sei!!!

É assim que nasce um poeta…
É de tal forma que nasce um amante… Um explorador!!!
É dessa maneira que vo-la sinto e vejo, minha marquesa…
Como minhas quatro estações…
Como a lágrima que abate o papel e alimenta a pena…
Não importas, pois jamais conseguirei conceitua-la;
Porque um mortal não pode conceituar o amor,
Como, muito menos, sua amante… Minha doce inocência!

Amo-te em corpo, em alma e espírito.
Amo-te como irmã, amante e amigo.
Amo-te como santa, meretriz e ladina.
Amo-te como mortal, herege e banida.
Amo-te em sonho no calor e no frio…
Amo-te em pesadelo, no preconceito e no medo…
Amo-te sozinho, mesmo que não me ames.

Crias dificuldades na vida,
Exaltando como baluarte à dança…
Ah!!! E como danças, minha divina!
Dois pra lá… Dois pra cá…
E teu corpo faz o circuito;
Circundando o salão,
Numa alegoria sedutora.

Saibas, meu amor…
Vo-la admiro em dança…
Admiro-te em estilo…
Admiro-te em audácia!
Afinal, não és a marquesinha do rei…
És a batalhadora cujo corpo…
Emana a arte em movimento.
Tu és o parnasianismo em pessoa…
Ah! Como amo vocábulos antigos em desuso.
Amo mais ainda, a leveza de teu corpo.

Tragas-me deusa,
Tragas-me a ânfora e seu líquido fluente.
Tragas-me a dama e sua flor…
Transformes a estátua em vida…
E que ela venha dançando no puro catalão,
Ou quem sabe, no sapateado do flamengo.

Todavia, deusa…
Não quero as estatuas esculpida pelos gênios greco-romanos.
Não almejo mais a arte ou o culto ao belo…
Pois, desejo-te somente aquela que ludibriou meus olhos…
E que reacendeu o adormecido dentro de mim.
Não quero viver o tempo dos contos…
Mas tão somente amar-te, mesmo que sejas em segredo;
Afinal, duvidas de mim;
Porque sou um simples homem e mortal…
Minha pobre vida se limita ao tempo,
Que está me consumindo!!!

Em último caso,
Chamo-te, minha Paolina deitada,
Prepares as virgens para o teu altar…
Ou que elas fiquem de luto…
No intuito de embelezar meu sepulcro;
Pois decerto morrerei de amor e de desgosto.
E tão logo eu seja o último,
Não haver-se-ão mais amantes,
Mas a guardar-te-ei em afeto e devoção pela poesia,
Que é imortal como a eternidade da alma.

Deixo-te, no epílogo, um elogio…
Afinal, tu és deusa…
Tu és doce como o produto de teu trabalho.
És a caucasiana queimada pelo sol…
O vermelho tímido e natural da terra…
És o vulcão que não eclodiu…
E que não queres parar de sonhar.

Tu és o espaço,
Enquanto que não tenho mais tempo.

Todo mundo tem aquele sonho capitalista de ficar milionário, de não ter  que trabalhar nunca mais para se manter, de ter status, roupas de grifes famosas, carros importados e muitas mulheres.  Qual homem não se fantasiou com tais sonhos em sua vida, mesmo que não fosse por um único segundo?  Sem dúvida, a tentação mora ao lado e, às vezes, ela está dentro de nossos lares através das mensagens inseridas nos filmes, nas novelas, nas revistas e nos outdoors.  Vivemos numa cultura que valoriza a imagem e que nos vende ilusões constantemente.   Nem as religiões conseguiram se afastar de tal maldição;  trabalhando com a aparência do templo, a organização das cadeiras, as cores e tonalidades das paredes, altura do tablado, além da necessidade de expandir a ideologia através da mídia, se utilizando da música gospel.  Não satisfeitos,  alguns lideres religiosos compraram emissoras de televisão, rádios na frequência AM e FM, e vão expandindo o Reino de Deus… Bem, pelo menos, essa é a imagem transmitida àqueles que estão do outro lado da moeda:  os necessitados, os desempregados, os assalariados, os doentes, os enfermos, os hipócritas, os gananciosos e os inocentes.  São tantos valores misturados que não se consegue separar o joio do trigo; porque, no final, o que vale é a intenção.

No processo histórico da humanidade, a fé sempre esteve incorporada a alguma estrutura física;  combatendo o próprio princípio da fé, que é acreditar naquilo que não se vê.   No antigo testamento, Moisés precisou trazer as pragas ao Egito para que tanto os egípcios quanto os hebreus acreditassem.  Mesmo assim, os hebreus colocaram Deus e sua fé em jogo no deserto.   Moisés dedicou sua vida ao divino, mas, quando estavam quase chegando à terra prometida, ele apressou a vontade divina, num momento de dúvida, batendo três vezes numa pedra para que dela saísse água.  Bem…  Da pedra saiu água, mas Deus não teve misericórdia da dúvida de Moisés, não lhe permitindo chegar vivo à terra prometida.  Ainda, no Antigo Testamento, Davi idealizou a Casa de Deus para guardar o tabernáculo e os mandamentos dados  a Moisés.   Davi estava fadado a liderar Israel na força e na espada.  Somente Salomão, seu filho, conseguiu concretizar tal sonho.   E os Judeus deveriam agora se voltar ao Templo de Salomão para encontrar o divino.  Mas quem determinou isso?  Foi o homem ou Deus?  No fim, isso não tem a menor importância, porque civilizações inteiras se dedicaram à construção do Templo.   Inúmeras pessoas acreditaram nessa ideia e gastaram tempo e riqueza para isso.   Logo, o  Templo de Salomão foi construído com pedra, argamassa, pedras preciosas, madeira e, principalmente, fé.

Decerto, é possível se materializar a fé pessoal e coletiva.  Mas, quantas civilizações inteiras já desapareceram e ainda desaparecerão?  O Templo de Salomão foi destruído.  Diz a história que não ficou pedra sobre pedra.  A imagem e a materialização da fé haviam desaparecido naquele momento, embora a ideia e a fé pura se mantivesse inabalada na memória e na vida de alguns.

Voltando ao início desta epistola, todo mundo quer viver afastado da ideia da morte e da velhice.  Quando se é jovem, se desafia o mundo e as regras da realidade.  Quando se tem poder, o indivíduo passa por cima de tudo e de todos para comprovar sua capacidade de comando, caso contrário, não haveria sentido na eminência e na existência do próprio poder, que é afrodisíaco.  Todavia, tanto o poder como a própria riqueza material são uma grande armadilha;  pois, no final, todos ficarão velhos e dependerão de outros.  Alguns serão amados, enquanto que outros, odiados.  Finalmente, virá a morte, cedo para alguns e pontual para outros…   E, mesmo que o seu caixão seja de ouro ou que seu funeral tenha honras e louvores, no momento em que o corpo tocar a terra, todos tomarão ciência da ironia da realidade;  porque, no final, todos são iguais…  Todos nós viraremos adubo de planta e retornaremos à natureza que, na maioria das vezes, ajudamos a destruir.  Esse é o princípio da carbonização da natureza.   Tal princípio ocorreu, em massa, com os dinossauros e acontece com todos os seres vivos diariamente e em doses homeopáticas.  Os evolucionistas chamam tal princípio de CADEIA  ALIMENTAR, se baseando na lei do mais forte.  Os religiosos acrescentam tal princípio a ideia do pecado e da cobrança divina.   Decerto, ambos estão com a razão;  pois a morte é um ato de justiça divina quando acontece de forma natural.  Ela é o acerto de contas da matéria com a natureza.

Se a morte se materializasse diante de seus olhos e lhe dissesse que sua hora chegou, mas, se você abrisse mão de sua fortuna toda, ela te daria mais tempo de vida;  sem dúvida alguma, qualquer pessoa, em tal situação, aceitaria o acordo.   Logo, em nome da ganância, muitas pessoas enriquecem e perdem o afeto ao semelhante, abandonam suas responsabilidades familiares e se tornam os escravos do dinheiro.   Talvez, o dinheiro possa comprar quase tudo.  Mas, uma coisa é certa:  O dinheiro não pode comprar a morte como, muito menos, recuperar o tempo perdido ou apagar os arrependimentos do espírito.  Por isso, meu caro leitor, viva em plenitude.  Seja um bom pai ou mãe…  Seja um bom cidadão e, se possível, uma boa pessoa…   Ame o próximo intensamente;  porque é só o amor e a fé no divino que permitem os sonhos se realizarem.   Afinal, a história dos homens não foi feita de dinheiro, que é a materialização da ganância, e sim, de pessoas comuns que lutaram e trabalharam muito em nome de suas famílias.

De onde venho?  Para onde vou? Como estou indo?  Quem eu sou?  Há vida após a morte?  Reencarnamos? – Faço-me as mesmas perguntas diariamente. E, quanto mais me questiono, mais questionamentos surgem, como uma maldição…  a maldição do pré-determinismo.  Mas, não tenho problemas com o divino por causa disso.  Vou simplesmente realizando aquilo que acredito e registrando para a posteridade.

As perguntas anteriores são pertinentes, porém, de pouca importância,  pois o primordial é a busca.  Então,  solicito, a Deus, vida longa, sabedoria, paz, prosperidade, uma linda caneta de pena com, pelo menos, uma resma de papel de linho;  além, do principal, a mulher amada a qual dedicarei todos meus momentos e suspiros… Àquela a qual inspirar-me-ei no trabalho, em casa, no exílio e no asilo.  E que todos saibam que, mesmo sem conhece-la, foi ela que deu sentido à busca desde o útero materno até  a lápide de meu túmulo.

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